Giramundo

Conversar com os mortos não é coisa de gente louca. É cotidiano, lugar-comum, costume de quem lê. As palavras formam um portal direto para outras vidas, outras mentes e sentimentos. Leio contos de séculos passados, e o que vejo? Um corpo já desaparecido da terra, transformado em matéria orgânica e quiçá parte de outras vidas, conversando comigo em sua antiga forma. Contando-me de suas rotinas, do que lhe fazia rir, chorar, amar, sofrer. Assisto ao desenrolar da história como quem vê um filme que acontece ao vivo. Meu tempo vira o tempo dele, e, assim, consegue voltar ao presente. Escrevo na presunção de voltar, após minha partida, ao ritmo do ponteiro dos segundos no relógio de outrém, para que possa lhe compartilhar da minha visão póstuma do que me acontece agora, e que seja tão louco, mas tão louco, que seja normal.

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