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Quinze de julho

Efemérides sempre mexem comigo daquela forma que só uma mulher sabe sentir e entender. Mas as tais datas comemorativas... Parecem-me exatamente um pretexto para celebrar. E é algo desapontador perceber que precisamos delas para nos permitirmos uma pausa nos 365 sufocantes dias, 5 horas e 48 minutos de uma translação a fim de refletirmos sobre o que nos cerca. E realmente precisamos, em meio a tanta alienação. Mas, com data ou sem data, não há como deixar de perceber a enorme beleza de ser homem. De carregar em si a fortaleza de uma vida, de ostentar poder e força, ainda que por dentro se deparem com os mesmos problemas de toda viv’alma. A graça de ser homem é se saber provedor, protetor, seguro de si e dos outros, e de repente se amparar nos ombros de um velho amigo ou daquela mulher – mãe, amiga, amante. Todo homem é lindo quando se vê numa encruzilhada e desenlaça seus desafios sozinho. Mas fica ainda mais charmoso quando aceita a ajuda de alguém e se permite compartilhar um pou

Banderas e fuscas

Há tanta coisa que deixei de saber nesses últimos meses. A caneta implorava por registrar em tinta o que fluía em ternas ondas de minha memória. Mas deixei de escrever, por querer deixar de sentir. Sentir o novo, veja bem. A felicidade me acompanhava de perto, e não queria que nada a atrapalhasse. Mas, como de costume, fronteiras nunca conseguem separar por completo dois países, e acabei me deixando envolver por teus pensamentos. Teus lábios tristes hoje me sorriem em súplica, e nessas noites perfumadas sinto a imensa vontade de te trazer a mesma felicidade com um roçar de mãos e um olhar mais quente. Em vez disso, vejo o vazio e o medo, a corajosa decisão de não mais se deixar à mercê dos ventos e tormentas. E me sinto incapaz de ajudar, por mais que tente. Mas, e te juro, minha tempestade sabe ser calma.

Dois minutos e silêncio

Em poucos dias juntos em rotações orbitais, nunca tantas palavras haviam sido antes publicadas. Mas a cada palavra que escrevia, meia dúzia se sufocava na garganta, presa pela falta de tempo, disposição ou coragem. As engrenagens precisavam de óleo outra vez, mas hesitava ao pensar nas arengas que diria assim que pudesse. Os minutos corriam ao contrário, as horas de seu dia decresciam, e tudo parecia uma sinestesia louca de sabores metálicos e aromas salobros. Não confiava nem mais em seus sentidos, e tampouco lhes dava razão alguma para confiarem nela. O último passatempo preferido era ludibriá-los em cada vão sorriso, nos dentes que se abriam para quem não sabia de sua hostilidade. Seus sentidos, esses acreditaram por várias vezes, cozinharam esperança, inflamaram o corpo todo. Doeram de saudades. Mas as letras só voltaram para provar que era melhor ficar calada.

Ode ao S

Vivo cada vez mais convencida de que nos parecemos em diversos e espantosos aspectos com aqueles répteis escamados e serpejantes que muitos têm por prática odiar. Carnívoros, muitos se valem de doses moderadas ou intensas de peçonha a fim de acabar com o inimigo; outros lançam mão da tática de sufocamento, sorrateiros e ferozes ao atacar a vítima sem deixar muitos vestígios. Não costumam mastigar a comida – e também aí, por infortúnio, identifico vários da nossa espécie –, engolindo-a inteira em completa gulodice. E muitas vezes triplicam de tamanho depois das refeições, e precisam de uma longa sesta para digerir tudo. Tantas coincidências. Mas ora se não é a ecdise, o genial processo de troca de pele que ocorre de tempos em tempos por toda sua vida, o que mais me espanta. Tais bichos se escondem em lugares seguros, param de comer, e esperam por um tempo até que a pele velha se descole da nova logo abaixo. Então a rompem e se arrastam para fora da roupa antiga, raspando e se esfregand

Rio Rasante

Hoje me peguei pensando nessas letras que te são comuns. Outra vez, admito. Por mais que tentasse me distrair, as horas passavam lentas e arrastadas, esperando pelas voltas do ponteiro. Queria que chegasse logo. Mesmo sabendo que não adiantaria muito. Ainda assim, era uma desculpa para aquele recado há tanto planejado e repensado. Um motivo a mais para falar contigo, ainda que, por mim, não precisássemos de motivo nenhum além do óbvio. Faz calor aí, eu sei. E chove. Mas as águas por aqui tampouco deram trégua; queimaram minha pele pelo simples desejo de melhorar tudo. As bestas animalizadas que te assustam o sono também me aparecem em pensamento. Fico preocupada ao me lembrar da selva em que te encontras, e acabo esquecendo a própria selvageria que me come a alma de pouco em pouco. Hás de ficar contente quando souberes que tudo vai bem pelas montanhas e que me aproximei de vez do que nos liga. Da vida que pulsa em cada um temerosa pelo que há de vir. Só sei que o verde dessas matas re

Por fim,

L'oiseau est transformé dans quelque chose d'autre qu'heureux. Ainda me lembro bem do dia em que primeiro ouvi teu nome. Desde o começo, viera ligado a uma parte do meu futuro que eu mesma desconhecia. Não demorou muito para que virasse rotina, termo constante nas minhas madrugadas insones. Admito agora que aprendi contigo a não dormir, muito antes de te conhecer. Fazia de tudo para ficar acordada e poder trocar umas palavras a mais, ver outro sorriso gelado escapar sem querer e conseguir aos poucos pequenas e deliciosas confissões. Meu dia passou a ter mais graça à noite, a fazer mais sentido sob as estrelas. Perdi a conta das vermelhidões que me perpassaram o rosto com palavras quentes e risos ternos. Ainda hoje me vejo acordada abraçando a escuridão da lua até que ela também desapareça por mais algumas horas. Depois de umas quantas semanas assim, pude finalmente me esquentar com teus braços seguros, afundar a cabeça em teu peito aberto e me inebriar com o perfume d