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Mostrando postagens de abril, 2008

No papel

Era uma tarde chuvosa, bonita. Asas coloridas borboleteavam por reflexos rubros do líquido que escorria pelo metal. O sol ardia na fétida fumaça esmeralda que fumegava no bueiro, e a caneta testemunhava o sushi do outro lado do mundo, o desfile em Milão, a casa de massagens tailandesa, o pianista grego e as crianças no jardim-porão austríaco. O sino, por sua vez, igrejava a tensão da noite que chegava, trazendo o sul de volta a seu norte. Em um desenho.

Seu Francisco

Não me leve a mal Me leve à toa pela última vez A um quiosque, ao planetário Ao cais do porto, ao paço O meu coração, meu coração Meu coração parece que perde um pedaço, mas não Me leve a sério Passou este verão Outros passarão Eu passo Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça Da sua cortiça Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim? Pense como eu vim de leve Machuquei você de leve E me retirei com pés de lã Sei que o seu caminho amanhã Será um caminho bom Mas não me leve Não me leve a mal Me leve apenas para andar por aí Na lagoa, no cemitério Na areia, no mormaço O meu coração, meu coração Meu coração parece que perde um pedaço, mas não Me leve a sério Passou este verão Outros passarão Eu passo (música de Chico Buarque, "Leve")

De mesmo nome

Num espaço pequeno, tantas pessoas se esbarram. Deixo-o para depois a ele voltar. Sei que faz parte do meu futuro, apesar de estar no meu presente. E no meu futuro, presente será, que coisa. E meu presente, que futuro tem? O mais belo do mundo, apresentado num tempo que não tem espaço, não tem hora, não tem cor. Junta tudo e faz disso meu medo, minha aflição, meu desprivilégio. O que tenho a dar? Que tenho, sim, a esperar. Ansiosamente pelas passagens doces do avião.