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Mostrando postagens de março, 2008

Do/Ao Dia 17

Dizem por aí que a vida da gente precisa de alguém. Aquele especial que vai trazer as verdadeiras felicidades e os mais improváveis prazeres. Nunca acreditei nisso. Desde pequena, sempre quis viver por mim mesma. Tive meus casos, é claro, mas, ainda assim, não esperava muito deles. O que importava era o momento, e sempre foi assim. Tinha horrores à idéia do príncipe que me levaria ao seu castelo e seríamos felizes para sempre. Claro, eu me achava uma boa arquiteta. Sabia que meu castelo seria muito mais bonito do que qualquer castelo pré-moldado que alguém viesse a me oferecer. Aí veio um outro alguém, rompendo meus alarmes e barreiras de proteção. Fazendo o que muitos já tinham feito, só que de um jeito inesperada e deliciosamente diferente. E não sei se faço mal em afirmar aqui que o mérito não era exclusivamente teu. Tinha algo mais no ar, provavelmente o teu perfume, que me derrubou em uma única laçada. Esse teu cheiro boêmio, teus dentes magnéticos e tua fala tão sublime. Levou-me

Con-Indicações

Sinto muito por você. Quando vejo seus sorrisos, logo eles me trazem aquelas tardes no quintal de casa, as brincadeiras, os planos, as conversas de madrugada. Você era interessante, conseguia se dar bem em quase tudo sem muita ajuda, atraente. Tinha tudo o que queria. Mas passa rápido por meus pensamentos a época das primeiras saídas e descobertas, e dá lugar aos desencontros. Talvez porque na verdade você não tivesse tudo o que queria. Ou não quisesse tudo o que tinha. Ou quisesse torto, seja lá como isso for. Fato é que o estrago foi-se dando aos poucos, efetivamente. Inconstante, você me abordava cada dia de um jeito. Suas intenções variavam. Ou o que variava era meu grau de aceitação? Tentei lhe deixar em seu lugar. Tento, ainda hoje. Não que ele o seja ruim, desagradável ou profano - deve ser de seu agrado, afinal, cavou-o por si só. Embora eu me recuse muito a acreditar. Procuro possíveis álibis seus, mas, juro, não os encontro. Vou sempre guardar um carinho imenso, ainda que o r

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Adultos são tão infantis quanto seus sonhos os permitem ser. Jovens são tão maduros quanto lhes ditam suas experiências. Escritores são tão estranhos quanto reais.

Carta ao Bonde

Prezado Veículo, Conhecedor de vosso caráter particularmente público, venho por meio desta expressar minha profunda indignação ao fato ocorrido ontem, mais precisamente à metade do dia intitulado o oitavo do terceiro mês de nosso calendário finalmente gregoriano - finalmente, pois era inadmissível ter de esperar mais 400 anos para deixar Julius de lado. Enfim, triste me é perceber o quão distante vossa senhoria ainda se faz de vossos pobres passageiros pobres. Compreendo que tenhas toda uma tabela de horários, chegadas e partidas a cumprir, e que sejas instruído pelas mãos suadas de algum desjantado - e, portanto, desajustado. Ainda assim, pequenos segundos de inaptidão compromissal não justificam atitudes radicais como a vossa. O atraso que me acometeu no dia anterior a este estava fora de meu controle biológico, por maior e mais diversa que fosse minha fauna. Deus e todos os juízes hão de concordar comigo que as vísceras de um homem sofrem de TPMs incontroláveis. Pois bem, embora v

Por um fio

Um único fio é capaz de se enrolar quantas vezes? De dar quantas voltas, de se ajeitar em quantas maneiras? Há de se arrumar um jeito de contá-las! Escrevê-las, catalogá-las, politizá-las. Polemizá-las. Pelomenisá-las. De que é feito um fio? As saliências da sacarose muitas vezes não batem com as do amido, então que fazer? Um rato ainda é um rato, se perde seus dedos. É ainda melhor que muitos ratos. Que têm rabos tão compridos como fios. Que comem amido. Que deglutem a vida canto por canto, do mais cremoso ao enrijecido pelo tempo. O tempo clima, ou o tempo hora? Como separá-los? Uma ampulheta varia seu tempo se seco ou se úmido, ou os minutos que variam o clima conforme passam? Quem marca o quê? Há um fio em tudo. Um fio de areia, talvez. Mas um fio. Enrolado ou não, é fio. Plausível de perder-se da meada, da toada, da patacoada. Um fio que afina a voz conforme engrossa. Que tem medo da sua coragem. Esse fio come o que lhe cabe, sem muito questionar. Se lhe é leve, dorme ligeiro, pro