Prismático

Numa fantasia das minhas conexões neurais, você se desintegra em uma aura multicolorida, e suas partículas etéreas pairam em suspensão sobre o mundo.
Num estalar de dedos, essa poeira cósmica retorna violentamente à Terra, espalhando-se por todos os cantos. Você já não é mais você. Deslealizou. Como o oceano virando mar, rio, cachoeira, nascente e chuva. Uma gota d'água. Milhares de gotas d'água.
E quando você choveu, brotou nos lugares mais inesperados. Floresceu nos olhos claros de outra pessoa. Surgiu nos fios reluzentes e grossos que contornam um sorriso diferente. Caminhou junto de pernas compridas que não eram suas. Arqueou-se nas sobrancelhas de um terceiro. Apertou a boca de satisfação em lábios que nunca tocaram os meus. Sua mão gesticulou por outros dedos, suas canções-poesia ecoaram em outro timbre, e mesmo sua ironia encontrou outra voz.
Você se espalhou como feixes de luz, sem pedir licença, enfeitiçando mais uma vez a escuridão. E o amor, antes desacreditado, mostrou-se infinito, maior que eu ou você, simplesmente sendo. Sem depender de nós. Um amor leal. Um amor que é.

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