Há tanta coisa que deixei de saber nesses últimos meses. A caneta implorava por registrar em tinta o que fluía em ternas ondas de minha memória. Mas deixei de escrever, por querer deixar de sentir. Sentir o novo, veja bem. A felicidade me acompanhava de perto, e não queria que nada a atrapalhasse. Mas, como de costume, fronteiras nunca conseguem separar por completo dois países, e acabei me deixando envolver por teus pensamentos. Teus lábios tristes hoje me sorriem em súplica, e nessas noites perfumadas sinto a imensa vontade de te trazer a mesma felicidade com um roçar de mãos e um olhar mais quente. Em vez disso, vejo o vazio e o medo, a corajosa decisão de não mais se deixar à mercê dos ventos e tormentas. E me sinto incapaz de ajudar, por mais que tente. Mas, e te juro, minha tempestade sabe ser calma.
Numa fantasia das minhas conexões neurais, você se desintegra em uma aura multicolorida, e suas partículas etéreas pairam em suspensão sobre o mundo. Num estalar de dedos, essa poeira cósmica retorna violentamente à Terra, espalhando-se por todos os cantos. Você já não é mais você. Deslealizou. Como o oceano virando mar, rio, cachoeira, nascente e chuva. Uma gota d'água. Milhares de gotas d'água. E quando você choveu, brotou nos lugares mais inesperados. Floresceu nos olhos claros de outra pessoa. Surgiu nos fios reluzentes e grossos que contornam um sorriso diferente. Caminhou junto de pernas compridas que não eram suas. Arqueou-se nas sobrancelhas de um terceiro. Apertou a boca de satisfação em lábios que nunca tocaram os meus. Sua mão gesticulou por outros dedos, suas canções-poesia ecoaram em outro timbre, e mesmo sua ironia encontrou outra voz. Você se espalhou como feixes de luz, sem pedir licença, enfeitiçando mais uma vez a escuridão. E o amor, antes desacreditado, m...
A sétima palavra mais difícil de ser traduzida no mundo todo não é outra que não a nossa Saudade. Cunhada através dos tempos por meio do latim para Solidão, nossa Saudade criou raízes na época das grandes navegações, provavelmente para descrever o sentimento das mulheres deixadas para trás pelos marinheiros de outrora. Uma sensação de falta, um desejo de possuir o que já fora seu, a privação da companhia, a solidão, certa incompletude, melancolia e nostalgia. O sentimento da espera. Tudo junto. Saudade, em sua essência, transcrevia um sofrimento. A dor da perda, do tempo atuante, da distância. Algo que só acabava se o matassem. O que torna ainda mais curioso como, nos tempos modernos, criamos certa veneração pela Saudade. Conseguimos a proeza de transformá-la em um sentimento belo, bonito de ser sentido e vivido. Lembranças doloridas passaram a nos trazer um sorriso aos lábios junto às lágrimas quase secas. O mar salgado de Fernando Pessoa já estaria doce nos tempos de hoje. Aprendemo...