Quando cansa, o corpo cansa, tudo cansa, cansa mais de não girar. O cansaço treme e faz o que nunca mais irei sonhar. Quantos planos, vãos enganos, ao ralo guiaram por tanto cansar. A noite chega, traz a vida e uma vontade de gritar. Passos ora grandes, cidades maravilhosas e tudo o mais que podia entrar. Agora tudo é náusea, o cheiro que faz vomitar. Se pudesse, lhe diria, mas o tempo está a se esgotar. Se salvamos, se perdemos, não há mais ajuda possível no ar.
Há tanta coisa que deixei de saber nesses últimos meses. A caneta implorava por registrar em tinta o que fluía em ternas ondas de minha memória. Mas deixei de escrever, por querer deixar de sentir. Sentir o novo, veja bem. A felicidade me acompanhava de perto, e não queria que nada a atrapalhasse. Mas, como de costume, fronteiras nunca conseguem separar por completo dois países, e acabei me deixando envolver por teus pensamentos. Teus lábios tristes hoje me sorriem em súplica, e nessas noites perfumadas sinto a imensa vontade de te trazer a mesma felicidade com um roçar de mãos e um olhar mais quente. Em vez disso, vejo o vazio e o medo, a corajosa decisão de não mais se deixar à mercê dos ventos e tormentas. E me sinto incapaz de ajudar, por mais que tente. Mas, e te juro, minha tempestade sabe ser calma.
Como é difícil amar um homem! Ao acordar, a falta do abraço, do rosto cansado, da pele áspera e tão, mas tão macia. Tudo me faz delirar. Toca uma música em algum lugar, vejo um filme, passa uma cena na televisão. Leio teu livro. E esse amor estranho me faz querer dividir tudo. Tudo o que antes, ah, antes era só meu. E fico confusa, sem saber o que fazer, como não ser chata ou irritante, ausente ou presente demais. Como matar todo o ciúme primitivo que acaba com as paixões. Das paixões, aliás, como manter o desejo vivo, num mar de estranhas doenças? Sinto a vida passar, e eu passo. Sem urgência, mas passo. E como é engraçado perceber que ainda não sei amar. Talvez Carson tivesse mesmo razão, pelo menos em algo. Da próxima vez, amo primeiro uma árvore. Um rochedo. Uma nuvem.