Das poeiras que me cercam o sorriso
Não sei mais o que é adeus. Ou a Deus. Fui perdendo os dois aos poucos, mas posso me lembrar vividamente do dia em que descobri o que era ir embora. Fazia frio, e eu tinha acordado cedo para uma das obrigações infantis de uma família então católica. Escutava há duas horas cantorias e pais-nossos e fábulas sobre o joio, o trigo e os homens. Toda aquela atenção a histórias que perdiam a graça perto dos Lobatos e Shakespeares me entediava um pouco. Completava meu livro com palavras copiadas da página anterior, como dizia no enunciado, já certa de que havia algo de errado naquilo tudo. E pensava nos olhos dele. Naquela ternura azul brilhante que irradiava toda vez que sorria. O lugar onde me encontrava agora aumentava minhas preces, que não se pareciam em nada com o que me haviam ensinado. Tinha aprendido a conversar com Ele nas noites de lua clara em que os gritos e brigas reinavam na cozinha logo abaixo de meu quarto. Costumava fugir para o quarto de ninguém, abrir a enorme janela de v...