Quanto do teu sal
A sétima palavra mais difícil de ser traduzida no mundo todo não é outra que não a nossa Saudade. Cunhada através dos tempos por meio do latim para Solidão, nossa Saudade criou raízes na época das grandes navegações, provavelmente para descrever o sentimento das mulheres deixadas para trás pelos marinheiros de outrora. Uma sensação de falta, um desejo de possuir o que já fora seu, a privação da companhia, a solidão, certa incompletude, melancolia e nostalgia. O sentimento da espera. Tudo junto. Saudade, em sua essência, transcrevia um sofrimento. A dor da perda, do tempo atuante, da distância. Algo que só acabava se o matassem. O que torna ainda mais curioso como, nos tempos modernos, criamos certa veneração pela Saudade. Conseguimos a proeza de transformá-la em um sentimento belo, bonito de ser sentido e vivido. Lembranças doloridas passaram a nos trazer um sorriso aos lábios junto às lágrimas quase secas. O mar salgado de Fernando Pessoa já estaria doce nos tempos de hoje. Aprendemos a nos contentar com o passado, em vez de querê-lo no presente. Correr atrás do que já se foi virou coisa de saudosista, louco apaixonado, sambista de roda. Gente que se prendeu ao passado e não sabe mais viver. O costume agora é que Saudade exprima a etérea felicidade daqueles que acreditam que o futuro será sempre melhor do que qualquer pretérito, não importa o quanto este último tenha sido perfeito. Valeu a pena?