Fly me to the Moon
Tenho um vício. Que não tem nome. Tem timbre. Sou viciada na Voz - não em qualquer uma, veja bem. Cheguei ao ponto de carregar comigo, a todo tempo, minúsculas doses, escondidas da vista alheia em bolsos, sacolas, na bolsa... em momentos mais ousados, cerro-as na palma das mãos, como se ela pudesse absorvê-las e assim aliviar minha abstinência, sem necessariamente ceder. Escondo a Voz de todos, com medo da punição por meu crime. Mas ela não se esconde de mim. Ela me procura, incita, foge. Aparece por milésimos de segundos enquanto durmo, etérea, pacífica, entregando-se alva como a noite ao meu prazer. Sorri desajeitada e o impulso de agarrá-la e comê-la com todos os dentes me faz despertar. Penso nas doses, me regulo. Um café termina de me acordar, vou para o trabalho. No semáforo, tenho certeza de que a vi passando em outro carro, zombeteira por ter conseguido mais um. Mas, minha cara droga, eu não ligo se você quer se reproduzir loucamente por sorrisos fracos. Já te prendi para mim. Já te tenho, Voz. E ninguém sabe que possa me ajudar.