Inestelar
Há uma teoria, não muito difundida, de que a Lua exerceria papel fundamental na maré dos olhos. Não, os olhos de ressaca são outra metáfora. Voltemos a nossa. O mito dos lobisomens traz exatamente a tal protagonista: Lua Cheia. Imagino o que os antigos pensavam quando a viam, geométrica, no céu. Porventura representasse ela o mesmo Sol que dourava suas peles durante o dia. Afinal, não é fácil diferenciá-los. Não, não ria ainda. Não falo bobagens por dizer. São idênticos, sim, tais astros. Quando criança, diga-me se lembrar, sabia o que eram? Vozes lhe diziam seus nomes. Mas você, infanto-estreado no mundo, provavelmente os consideravazinho iguais. Ficam acima de sua cabeça, rotundos e brilhantes, iluminados e iluminadores. Intimadores. Nosso primeiro satélite foi, com certeza, um Sol-Lua. Imaginar que tal influência pueril fugiu de sua vida nos dias atuais é ingenuidade. Porque há dias em que o liqüidificador mistura demais os ingredientes, ocasionando uma inversão estelar. Nosso Sol-Lua vira Lua-Sol. E Lua Cheia.
Nessas horas, tudo o que sentimos é aquele musicar massageando nossa pele, valseando pelo corpo, obscenizando a realidade. Erótico, hei de concordar. Não nos traz, porém, o orgasmo desejado. É uma Lua vil, sandia, esfomeada de luz. A nossa luz. É a lâmpada que enegrece nosso passado, nossas experiências, nossas histórias. Como se tateasse ao léu o fiozinho solto na roupa para, a partir dele, desfiar por completo nossa trama. E o sufixo Sol comparece para queimar, arder, doer.
Sequer imagino que sofra de mal semelhante. Mas a Lua Cheia, a Lua-Sol, traz-me lágrimas que não são da beleza, nem da tristeza ou da dor. São gotas amargas.
Nessas horas, tudo o que sentimos é aquele musicar massageando nossa pele, valseando pelo corpo, obscenizando a realidade. Erótico, hei de concordar. Não nos traz, porém, o orgasmo desejado. É uma Lua vil, sandia, esfomeada de luz. A nossa luz. É a lâmpada que enegrece nosso passado, nossas experiências, nossas histórias. Como se tateasse ao léu o fiozinho solto na roupa para, a partir dele, desfiar por completo nossa trama. E o sufixo Sol comparece para queimar, arder, doer.
Sequer imagino que sofra de mal semelhante. Mas a Lua Cheia, a Lua-Sol, traz-me lágrimas que não são da beleza, nem da tristeza ou da dor. São gotas amargas.