Coraçanando lutas
Calma como a água, a doçura da menina era prazeirar os gatinhos da vizinha. E olha que não eram poucos. Malhadinho, Pintado, Cruzinha, Ferro-Céu, Xantonila e Melcreme. Meia-dúzias, eram eles que, em seus miados pelos arredores, arco-irisavam lojas e padarias, bancos, magazines, carrinhos de lanche. Todo dia, enfileiravam-se sobre o muro verde recoberto de heras, e saiam à caça de diversão. Mas divertido mesmo era rolar na areia, no parque ali do bairro. Os passantes não gostavam muito, eles enfeiavam a cidade, diziam. Os políticos propagandeavam que acabariam com os gatos no próximo mandato. Os policiais diziam que, se houvesse aumento nas verbas, haveria como providenciar mais carrocinhas para a cidade, que estava necessitada. E os felinos não estavam nem aí. Algazarra eles queriam, algazarra eles tinham. Atormentavam todas as crianças: não sobrava uma em seu balanço que não fosse unhada, cedo ou tarde. Os pais, claro, achavam aquilo também um horror, e tentavam espantar os bichanos com pés, mãos e pedras covardes. Luíza, nossa menina, dizia-lhes que não era assim, os ligeirinhos pediam apenas um trato especial, nem caro, nem barato; longo. Ora, se não tem preço, pra que perdermos nosso tempo com essas pestes? - não era raro de se ouvir. E, quanto mais os cérebros agiam gritadamente, menos os peludos pacificavam. Só Luizinha ganhava a guerra, pois sabia o segredo de tais amores.