Café com pão, café com pão
Certos nomes, de tão antigos, têm muitas histórias para contar. Essa é apenas uma, dos vários Josés. Na idade em que só usava calças para ir à missa, nosso José teve sua primeira namorada: a locomotiva elétrica que ganhara do pai no Natal. Seu João ficaria três meses sem a marmita na obra, mas conseguira a alegria do filho. Nada lhe dava mais prazer do que se sentar, à noitinha, ao lado das mãos rendeiras de Dona Maria e observar Zezinho bater palmas a cada volta dos vagões.
Zezinho cresceu rápido, e seus irmãos não se lembram do dia exato em que passaram a chamá-lo de Seu Zé. Apenas acontecera, tal como o primeiro emprego (nesse, ainda Zezinho). O garoto virou carregador de cadeiras, quando a comida em casa rareou. Seus sete irmãos não tinham mais tempo para ir à escola, e "o único trem que passa furioso lá é o diretor, mainha. Quero trabalhar também, pra mó de juntar um dinheirinho e montar minha estação, vai ser toda de vidro, um apito diferente pra cada trem." Ele não sabia, porém, que o dinheiro era vivo, e sempre dava um jeito de escapar da lata de leite onde ficavam as economias.
Agora, Seu Zé se empenhava como pedreiro na capital. Após a morte do pai, a família se mudara para São Paulo em busca de uma sobrevivência mais digna. Não havia mais Zezinho, nem trem que levasse para longe as tristezas da vida. Tijolo sobre tijolo, o obreiro desconstruiu o sonho de outrora. Por vários anos, a mecânica tarefa de erguer prédios foi sua única preocupação, e seria até o fim, não fosse pelo dia em que perdeu o ônibus. Voltando a pé, uma placa chamou-lhe a atenção: estavam recrutando gente para a escavação "do mais moderno túnel de metrô em todo o país." Uma obra grandiosa, que beneficiaria toda a população.
É a minha chance de ficar perto dos trilhos! - pensou Zé. Logo conseguiu indicações que o colocaram no setor B, debaixo da avenida. Eram ele e mais três, que teriam de entregar a passagem em cinco semanas. Infelizmente, o prazo assustou os trabalhadores, e Tonhão, um moço parrudo de seus dezesseis anos, resolveu ajudar com uns explosivos. Os quatro armaram o local e as dinamites, mas o bum veio de todo o redor. Preso pelas pedras, Seu Zé teve de assistir à asfixia de seus companheiros, que foi também a cena registrada em seus olhos dentro do caixão.
No outro dia, a cidade acordou e mandou outros quatro funcionários, para apagar de seu subsolo o vermelho dos sonhos de Zezinho, afogados pela civilização. Dona Maria rezou e praguejou contra a prefeitura e o governo, que eram inertes a tais situações. No entanto, o ritmo continuou o mesmo, uma vez que a disponibilidade de Josés no país era enorme.
Zezinho cresceu rápido, e seus irmãos não se lembram do dia exato em que passaram a chamá-lo de Seu Zé. Apenas acontecera, tal como o primeiro emprego (nesse, ainda Zezinho). O garoto virou carregador de cadeiras, quando a comida em casa rareou. Seus sete irmãos não tinham mais tempo para ir à escola, e "o único trem que passa furioso lá é o diretor, mainha. Quero trabalhar também, pra mó de juntar um dinheirinho e montar minha estação, vai ser toda de vidro, um apito diferente pra cada trem." Ele não sabia, porém, que o dinheiro era vivo, e sempre dava um jeito de escapar da lata de leite onde ficavam as economias.
Agora, Seu Zé se empenhava como pedreiro na capital. Após a morte do pai, a família se mudara para São Paulo em busca de uma sobrevivência mais digna. Não havia mais Zezinho, nem trem que levasse para longe as tristezas da vida. Tijolo sobre tijolo, o obreiro desconstruiu o sonho de outrora. Por vários anos, a mecânica tarefa de erguer prédios foi sua única preocupação, e seria até o fim, não fosse pelo dia em que perdeu o ônibus. Voltando a pé, uma placa chamou-lhe a atenção: estavam recrutando gente para a escavação "do mais moderno túnel de metrô em todo o país." Uma obra grandiosa, que beneficiaria toda a população.
É a minha chance de ficar perto dos trilhos! - pensou Zé. Logo conseguiu indicações que o colocaram no setor B, debaixo da avenida. Eram ele e mais três, que teriam de entregar a passagem em cinco semanas. Infelizmente, o prazo assustou os trabalhadores, e Tonhão, um moço parrudo de seus dezesseis anos, resolveu ajudar com uns explosivos. Os quatro armaram o local e as dinamites, mas o bum veio de todo o redor. Preso pelas pedras, Seu Zé teve de assistir à asfixia de seus companheiros, que foi também a cena registrada em seus olhos dentro do caixão.
No outro dia, a cidade acordou e mandou outros quatro funcionários, para apagar de seu subsolo o vermelho dos sonhos de Zezinho, afogados pela civilização. Dona Maria rezou e praguejou contra a prefeitura e o governo, que eram inertes a tais situações. No entanto, o ritmo continuou o mesmo, uma vez que a disponibilidade de Josés no país era enorme.