Arengas
A modernidade tem várias cores. Cada cor, uma palavra, cada palavra, mil dizeres. Cada um pendurado em uma letra. Não são mil letras, mas as palavras dão conta do recado. Sim, na maioria das vezes. Nas outras, talvez maioria também - há controvérsias e o IBGE ainda não divulgou seu parecer oficial, o corpo se encarrega do recado. Geralmente, os olhos. Mas a boca também ajuda. Quase ninguém repara nos vincos do rosto, mas quanto eles têm a dizer! Aliás, segundo dados estatísticos, apenas 8,34% das pessoas conseguem se comunicar plenamente com as mãos. Surdo-mudos não contam. Bom, podem contar também, e olha que vão além dos vinte dedos! Ah, calculadora manual, como você é requisitada! Vejo-a por todas as esquinas, espalhando seu perfume burro. Em livros também. Livros complicados de matemágicas extremamente simples, que enganam com facilidade observadores desatentos. Pois é, eles também são bons comunicadores. Os livros, quero dizer. Porque as pessoas têm problemas - não me diga - enormes em dizer o que querem sem delongas. Tudo bem, o gênero filosófico não é excelente representante da classe literária a que nos referimos. Mas quando um assunto começa - e vá-se saber o motivo ideal por que começou (fica-se doido) - e desanda, não adianta. Ainda que se reflita que os tempos são outros, que há menos planetas em nosso sistema apesar da galáxia estar em expansão, que sanduíche de ovo é antinatural e que o despertador raramente cumpre adequado sua função, faltará o elemento-surpresa do relato, o clímax do enredo. Nessas horas, adeptos do Chaplin, iremos todos colocar um belo ponto - indo contra minhas vontades gramaticais - roedor, que acabará com as angústias da madrugada.