A sétima palavra mais difícil de ser traduzida no mundo todo não é outra que não a nossa Saudade. Cunhada através dos tempos por meio do latim para Solidão, nossa Saudade criou raízes na época das grandes navegações, provavelmente para descrever o sentimento das mulheres deixadas para trás pelos marinheiros de outrora. Uma sensação de falta, um desejo de possuir o que já fora seu, a privação da companhia, a solidão, certa incompletude, melancolia e nostalgia. O sentimento da espera. Tudo junto. Saudade, em sua essência, transcrevia um sofrimento. A dor da perda, do tempo atuante, da distância. Algo que só acabava se o matassem. O que torna ainda mais curioso como, nos tempos modernos, criamos certa veneração pela Saudade. Conseguimos a proeza de transformá-la em um sentimento belo, bonito de ser sentido e vivido. Lembranças doloridas passaram a nos trazer um sorriso aos lábios junto às lágrimas quase secas. O mar salgado de Fernando Pessoa já estaria doce nos tempos de hoje. Aprendemo...
Há tanta coisa que deixei de saber nesses últimos meses. A caneta implorava por registrar em tinta o que fluía em ternas ondas de minha memória. Mas deixei de escrever, por querer deixar de sentir. Sentir o novo, veja bem. A felicidade me acompanhava de perto, e não queria que nada a atrapalhasse. Mas, como de costume, fronteiras nunca conseguem separar por completo dois países, e acabei me deixando envolver por teus pensamentos. Teus lábios tristes hoje me sorriem em súplica, e nessas noites perfumadas sinto a imensa vontade de te trazer a mesma felicidade com um roçar de mãos e um olhar mais quente. Em vez disso, vejo o vazio e o medo, a corajosa decisão de não mais se deixar à mercê dos ventos e tormentas. E me sinto incapaz de ajudar, por mais que tente. Mas, e te juro, minha tempestade sabe ser calma.
Essa boca que não mais te beija ignora tudo que percorri Ainda tem os mesmos instintos, ainda te deseja, ainda te sorri. Contradiz tudo que quero, perto dos outros me trapaceia Exibe, tal qual voraz sereia, a mesma voz de manso melro. De face em face, perco a tua, em todo canto vejo a saída. Mas a brisa pelas brânquias se insinua Corta ríspida a mente, que, ao fim anuída, As lágrimas por vezes extenua; Procura, ainda que dela fuja, a recaída. Quero uma lei que proíba meu sorriso de te encontrar.