Preciso urgente de uma pílula. A tal. Injetora de ânimo e coragem - vigor. Mas ela não existe, não aqui perto de casa. Os homens a proíbem. Espera. Talvez não seja essa pílula. Eu quero aquela outra. A de fórmula indecifrada. Será que há uma conspiração a esconder-lhe a receita? Decidi. Vou a Pasárgada. Pedirei ao rei, ele me há de prover com um estoque decente. Ei! Por favor! Preciso do telefone de um táxi! Como é? Não sabe o caminho? Mas que droga, odeio esses novatos. Vá, vá. Você não me serve. Vou a pé. Cadê meu guia de bolso? Ah, esqueci, aqui não sou turista. Pô! Por que só os turistas é que carregam as coordenadas do mundo? Que injustiça. Quando voltar de lá, anoto no meu bloquinho: quero ser turista na próxima encarnação. Vou pedir a Iemanjá. Carregar aquelas Canon ultramodernas, lambuzada de filtro solar. Igualzinho o poema. Aliás, o poema não era sobre turistas, por que falava de filtros então? Isso me lembra a história do andróide que queria ser menino e foi procurar a fada...
A sétima palavra mais difícil de ser traduzida no mundo todo não é outra que não a nossa Saudade. Cunhada através dos tempos por meio do latim para Solidão, nossa Saudade criou raízes na época das grandes navegações, provavelmente para descrever o sentimento das mulheres deixadas para trás pelos marinheiros de outrora. Uma sensação de falta, um desejo de possuir o que já fora seu, a privação da companhia, a solidão, certa incompletude, melancolia e nostalgia. O sentimento da espera. Tudo junto. Saudade, em sua essência, transcrevia um sofrimento. A dor da perda, do tempo atuante, da distância. Algo que só acabava se o matassem. O que torna ainda mais curioso como, nos tempos modernos, criamos certa veneração pela Saudade. Conseguimos a proeza de transformá-la em um sentimento belo, bonito de ser sentido e vivido. Lembranças doloridas passaram a nos trazer um sorriso aos lábios junto às lágrimas quase secas. O mar salgado de Fernando Pessoa já estaria doce nos tempos de hoje. Aprendemo...
-Ele é mesmo bom, né? -Demais! -E ainda por cima, é um gato! -Ah, você acha? Eu prefiro o outro.. Ainda mais assim, de seminarista. Fica um charme. Mas ele anda tão magrelo! -Impressão.. Olha aqueles bíceps! -E as pernas de saracura.. -Ah, vai me dizer que dispensava um homem desses? -Aí também não, né. Mas é que eu não caço faz dias.. -(meses) -O quê? -Nada, já viu como essa cortina é bem mais bonita que a do Palace? -É um tom de vermelho lindo. Mas, voltando ao que nós estávamos falando.. -Sim? -Seu homem tem um grave defeito. -Grave? Como? -Incorrigível. -E qual é? -A barba. -Oras, mas ele nem tem barba! -Por isso mesmo. Já percebi que seu pecado é a barba. Daquelas cerradas. Olha o Tom, o Edu, o Pedro.. -Não, não tenho nada disso. Foram apenas coincidências. -Como se eu não soubesse dos pedaços que você guarda de cada uma delas até hoje! -É apenas lembrança. -Sentimental. -Lembrança é lembrança, sentimental ou não! -E você não fica, à noitinha, deslizando os dedos sobre suas lembr...