Eu queria pedir desculpas. Mas sabia que já não era culpa minha. Talvez nunca tivesse sido, na verdade. A velha mania de querer sempre me pôr na história, nem que fosse pra ser a culpada de tudo. A vilã, a mocinha, a figurante. Só queria participar. Se um dia algum destemido se propusesse a analisar as poeirentas páginas da minha infância, quiçá poderia dizer que fui muito reprimida, envergonhada, escondida. Mas apanhei muito até aprender a ficar calada. Cada estalo amargo era uma lágrima em silêncio que corria seca por meu rosto, ciente de não poder sequer existir. Aprendi a ser dura. Inclusive comigo mesma. Mas, como a larva que um dia se fecha e vira pupa, eu me abri ao mundo. Descobri que existir era muito mais que deixar calar. E talvez tenha tropeçado algumas vezes em deslizes infantis, sem saber ou poder saber escolher qual degrau era o mais firme. Por sorte, encontrei alguém ao meu lado, ajudando-me a subir a escada. Porém, também por ironia, acabei subindo degraus que ta