Rio Rasante
Hoje me peguei pensando nessas letras que te são comuns. Outra vez, admito. Por mais que tentasse me distrair, as horas passavam lentas e arrastadas, esperando pelas voltas do ponteiro. Queria que chegasse logo. Mesmo sabendo que não adiantaria muito. Ainda assim, era uma desculpa para aquele recado há tanto planejado e repensado. Um motivo a mais para falar contigo, ainda que, por mim, não precisássemos de motivo nenhum além do óbvio. Faz calor aí, eu sei. E chove. Mas as águas por aqui tampouco deram trégua; queimaram minha pele pelo simples desejo de melhorar tudo. As bestas animalizadas que te assustam o sono também me aparecem em pensamento. Fico preocupada ao me lembrar da selva em que te encontras, e acabo esquecendo a própria selvageria que me come a alma de pouco em pouco. Hás de ficar contente quando souberes que tudo vai bem pelas montanhas e que me aproximei de vez do que nos liga. Da vida que pulsa em cada um temerosa pelo que há de vir. Só sei que o verde dessas matas reflete teu sorriso tímido escondido nas mechas castanhas do teu cabelo, num jazz solto de desenho animado que reforça o sabor desses lábios aventureiros. A sede me ataca o pensamento de repente, e a boca seca feito lagoa num dia de poucos jacarés com aqueles batimentos acelerados que me impulsionam o sangue. Tua música, entretanto, ressoa nos recantos mais escuros e me indica a luz que muito em breve volta; então me sinto feliz.