Por fim,
L'oiseau est transformé
dans quelque chose d'autre qu'heureux.
Ainda me lembro bem do dia em que primeiro ouvi teu nome. Desde o começo, viera ligado a uma parte do meu futuro que eu mesma desconhecia. Não demorou muito para que virasse rotina, termo constante nas minhas madrugadas insones. Admito agora que aprendi contigo a não dormir, muito antes de te conhecer. Fazia de tudo para ficar acordada e poder trocar umas palavras a mais, ver outro sorriso gelado escapar sem querer e conseguir aos poucos pequenas e deliciosas confissões. Meu dia passou a ter mais graça à noite, a fazer mais sentido sob as estrelas. Perdi a conta das vermelhidões que me perpassaram o rosto com palavras quentes e risos ternos. Ainda hoje me vejo acordada abraçando a escuridão da lua até que ela também desapareça por mais algumas horas. Depois de umas quantas semanas assim, pude finalmente me esquentar com teus braços seguros, afundar a cabeça em teu peito aberto e me inebriar com o perfume da tua pele. Roçar os dedos por teus cachos ralos e macios, labirínticos. Todo o meu ar independente sumiu no mesmo instante em que teus olhos me atacaram verdes de sabor e tesão. Mas em ti fiquei mais forte, quebrei travas que me cercavam, afastei-me de quem me fazia mal sem saber. Ganhei um mundo novo que lentamente nos aproximou, embora eu imaginasse que já estivéssemos irrevogavelmente conectados. Tive a honra de me apaixonar por tua cidade através de teus olhos, de cantar a vida por tuas músicas e poesias, de conhecer pessoas admiráveis que até hoje trago fundo no peito. Ainda sinto o cheiro do mar ao recordar nossas caminhadas tímidas, tempestuosas ou ardentes pela areia grossa. Sei o quanto te aborreci, e sei o quanto te fiz feliz sob holofotes azuis de brumas artificiais, ainda que baixinho. Malhei meu coração, sonhei com mundos alheios. Estuprei retinas que conseguiam me entender, ainda que não quisessem ou pudessem. Ainda o faço de vez em quando, mas prometo que isso um dia acaba. Sei que pássaros em sua vida contente são mera utopia em teus lábios bravios, e entendo que a companhia uma hora tenha de partir. Não conheço a data dessas linhas, mas o tempo se encarrega de chegar. Um tempo de recomeços, de novos sorrisos, de abraços cada dia mais apertados. Sem que eu tenha de mentir o que transparece nos olhos embotados de outros braços.