Quinze de julho
Efemérides sempre mexem comigo daquela forma que só uma mulher sabe sentir e entender. Mas as tais datas comemorativas... Parecem-me exatamente um pretexto para celebrar.
E é algo desapontador perceber que precisamos delas para nos permitirmos uma pausa nos 365 sufocantes dias, 5 horas e 48 minutos de uma translação a fim de refletirmos sobre o que nos cerca. E realmente precisamos, em meio a tanta alienação. Mas, com data ou sem data, não há como deixar de perceber a enorme beleza de ser homem. De carregar em si a fortaleza de uma vida, de ostentar poder e força, ainda que por dentro se deparem com os mesmos problemas de toda viv’alma.
A graça de ser homem é se saber provedor, protetor, seguro de si e dos outros, e de repente se amparar nos ombros de um velho amigo ou daquela mulher – mãe, amiga, amante. Todo homem é lindo quando se vê numa encruzilhada e desenlaça seus desafios sozinho. Mas fica ainda mais charmoso quando aceita a ajuda de alguém e se permite compartilhar um pouco de seu misterioso mundo mudo.
O silêncio e a falta de palavras são muito comuns, e transpiram aquela etérea incógnita que muitas vezes permeia a mente masculina. Sentem vontade de falar, mas não dizem. Protegem-se em meio à reserva, cientes de que são o alvo mais fácil e preferido de todos. Criam muralhas que por vezes os afastam do jeito simples e primitivo do gostar. Mas também formam fiéis grupos de amigos, nos quais se comunicam implicitamente e apóiam um ao outro, deixando em segundo plano a terrível mesquinharia de invejar. Descobrem a felicidade por trás de um filho, o intangível amor de que não se acreditavam capazes. Por vezes querem se mostrar superiores. Mas isso é só consequência do enorme valor e estima que a eles atribuímos: acreditam que nosso louvor é inadequado, e se esforçam por sempre melhorar.
E, para conquistá-los, dá-lhe criatividade, perspicácia e perseverança.
Vale tudo a pena: são uns amores quando se entregam, de corpo e alma, à beleza da vida. Viram poetas, artistas, escritores ou simplesmente viventes da tranquila sabedoria de existir. E transmitem tal conhecimento com uma habilidade admirável: tornam-se mestres da vida, versados professores do mundo que podemos ver.