Amor cachorro
Greg queria um cachorro. Pedira a sua mãe, e ela lhe respondera em tom ríspido, "Cachorros tomam tempo; vá estudar." Assim, cresceu isolado do contentamento que um bichano lhe traria, das descobertas e alegrias que invejava em seus colegas de classe. Não sabia o que era estar sozinho e ter companhia mesmo assim. Desconhecia as emoções trazidas pelo amor, ele, que não amava ninguém. Curtiu a infância como pôde, não teria feito nada diferente. Mas chegou à adolescência assim, sem saber o que era o amor. O amor; não a paixão. Pela paixão, passou diversas vezes ao longo dos anos. Sabia cada detalhe sórdido e brilhante que vem com a paixão, conhecia as músicas que tocavam, os poemas que liam, as camas em que deitavam. E o irritava que, na cama do amor, do puro amor, deitasse só.
Homem feito, tinha sua mulher, e a amava. Mas não era amor. Não era aquele sentimento simples e honesto que todos dizem sentir por algo. Faltava-lhe. Perdia-se. Procurou por ele em carros, motos, amigos, bebidas, aventuras, festas, tentou até o futebol. Odiou esportes em grupo pelo resto da vida. Aquela massa, consumidora de mídia em massa, voraz por acontecimentos e tragédias em massa, ansiosa por resultados em massa e temerosa das mesmas massificantes coisas, ela simplesmente não se diluía nele. Densidades diferentes, talvez. Tentou o baralho. Os números lhe fascinavam. Tentou as letras. O papel lhe era fugidio.
Recorreu por fim ao que lhe parecera a última das opções: filhos. Cresceram bonitos e lustrosos, cada qual com seu potencial. Claro, ele os amava. Mas não amava. Não amava nada, não sabia amar. Estava sempre confuso com as ideias alienantes da classe média. Procurou um analista, pagou rios de dinheiro. Investiu numa casa nos Alpes. Jogou a sorte na Bolsa. Enriqueceu-se, perdeu a cabeça em eventos e representações sociais. Tentou cuidar dos netos, dar-lhes o que nunca pudera ter. Então lembrou-se do cachorro, de seu cachorrinho que nunca conheceu. A decisão foi imediata, comprou-lhes um Terrier, um Maltês e um Basset, um para cada travesso. O choque deu-se instantaneamente também. Não aguentava assistir àquelas criaturas estranhas, brincando todas juntas, como se se compreendessem sem dizer palavra. O ciúme invadiu-lhe, corroendo todo seu ser, apagando de si o amor que tinha, o amor, aliás, que não era amor.
Fugiu para um quiosque na praia, desmaiou numa rede à sombra de um coqueiro e pediu uma porção de camarões fritos. O atendente lhe perguntou, "Qual molho o senhor deseja?" - e ele pediu o de limão, acompanhado de uma cerveja bem gelada com sprite, satisfeito consigo mesmo por finalmente poder escolher os detalhes que importavam ao seu paladar, por poder saborear as pequenas emoções e sensações que realmente fariam alguma diferença em sua vida. Ali na rede, pensando qual seria seu último leito antes do de morte, Greg amou pela primeira vez.
Homem feito, tinha sua mulher, e a amava. Mas não era amor. Não era aquele sentimento simples e honesto que todos dizem sentir por algo. Faltava-lhe. Perdia-se. Procurou por ele em carros, motos, amigos, bebidas, aventuras, festas, tentou até o futebol. Odiou esportes em grupo pelo resto da vida. Aquela massa, consumidora de mídia em massa, voraz por acontecimentos e tragédias em massa, ansiosa por resultados em massa e temerosa das mesmas massificantes coisas, ela simplesmente não se diluía nele. Densidades diferentes, talvez. Tentou o baralho. Os números lhe fascinavam. Tentou as letras. O papel lhe era fugidio.
Recorreu por fim ao que lhe parecera a última das opções: filhos. Cresceram bonitos e lustrosos, cada qual com seu potencial. Claro, ele os amava. Mas não amava. Não amava nada, não sabia amar. Estava sempre confuso com as ideias alienantes da classe média. Procurou um analista, pagou rios de dinheiro. Investiu numa casa nos Alpes. Jogou a sorte na Bolsa. Enriqueceu-se, perdeu a cabeça em eventos e representações sociais. Tentou cuidar dos netos, dar-lhes o que nunca pudera ter. Então lembrou-se do cachorro, de seu cachorrinho que nunca conheceu. A decisão foi imediata, comprou-lhes um Terrier, um Maltês e um Basset, um para cada travesso. O choque deu-se instantaneamente também. Não aguentava assistir àquelas criaturas estranhas, brincando todas juntas, como se se compreendessem sem dizer palavra. O ciúme invadiu-lhe, corroendo todo seu ser, apagando de si o amor que tinha, o amor, aliás, que não era amor.
Fugiu para um quiosque na praia, desmaiou numa rede à sombra de um coqueiro e pediu uma porção de camarões fritos. O atendente lhe perguntou, "Qual molho o senhor deseja?" - e ele pediu o de limão, acompanhado de uma cerveja bem gelada com sprite, satisfeito consigo mesmo por finalmente poder escolher os detalhes que importavam ao seu paladar, por poder saborear as pequenas emoções e sensações que realmente fariam alguma diferença em sua vida. Ali na rede, pensando qual seria seu último leito antes do de morte, Greg amou pela primeira vez.