À Tua Procura

Lia-se na placa, escritório de advocacia. Era o que ela recordava dele. Da vida anterior, de seus sonhos, fora isso que ficara. Agora ele se tinha formado, não trabalhava mais com o pai; montara seu próprio escritório. Claro, ainda ficava no mesmo local, afinal era perto de onde morava também. Perto de todas aquelas mansões de marfim, cheias de piscinas e campos de futebol. Ela tocou a campainha, pois um aviso pregado no vidro da porta dizia para não bater. Abriu-lhe a porta uma loura estonteante, tanto mais refinada quanto mais justo o terninho vermelho que usava. Esses grandes nomes do poder sempre fazem questão de se rodear das mais belas carnes.

―Em que posso ajudá-la, senhora?
―Por favor, o Dr. Sovieman está?
―De que se trata?
―É assunto particular.
―Sinto muito, mas ele está extremamente ocupado. Precisa agendar um horário antes.

O quadro na parede pendia ligeiramente torto. Deprimia-lhe que um diploma tão requintado e empoado de cobiça não fosse levado a sério. Afinal ela sabia, mais do que ninguém, do esforço que requeria conseguir uma formação que não fosse desmerecida.

―Diga a ele que é urgente. Estou na cidade só até amanhã. Aqui, fique com meu cartão. E não se esqueça de entregar a ele, por favor.
―Vou ver o que posso fazer.

Ela saiu. A porta era pesada e dava para o marfíneo hall. Olhou para trás, a sala do poderoso chefão ficava logo adiante. Deveria tentar falar com ele? O velho juiz tinha fama de ser bem rabugento, resquícios da época em que lecionava na Federal. Havia-se aposentado há poucos anos, mas o ardor da militância contra a falsa militância das pessoas não havia morrido, o que o fez continuar no cenário. Também precisava ficar um tempo longe de sua mulher, que havia descoberto recentemente um tumor no fígado e lutava para sobreviver. Não era sua culpa, ele simplesmente não aguentava passar o dia inteiro ao lado de uma mulher que, antes bela, formosa e boa de cama, agora só reclamava e chorava de dores, quando não estava enjoada e passando mal.

Mas, é claro, ela não sabia disso. Nem mesmo conhecia a esposa do juiz, sabia-lhe apenas o nome, Luiza, ou talvez fosse Laís. O que não era grande coisa, não conhecia também o velho juiz. Conhecia apenas seu filho, o filho que não a conhecia e não lhe atendera no escritório. Engraçado como as pessoas crescem e se desenvolvem socialmente, mas esquecem as relações interpessoais, e como se aproximar dos outros.

Pegou a chave do carro e dirigiu-se à frondosa sombra que cobria o veículo. Um Ford verde-escuro, com uns cinco anos de estrada, que ela havia alugado assim que o avião pousou na região. Iria para o hotel onde estava hospedada, tomaria um banho relaxante e esperaria pelo telefonema que tinha certeza de que ele faria. Então contaria sua história, seus motivos e complicações, e ele entenderia, chegaria até a lhe pedir desculpas por tê-la ignorado antes. E eles se beijariam loucamente, como haviam planejado em segredo há tanto tempo.

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