Álcool, Fogo e Amores
Bola treze, vai na bola treze. A sinuca nunca fora sua maior paixão, embora envolver-se em problemas (mais do que sair de tais) fosse sua especialidade. Como havia criado confusões. E quase sempre não fez nada para resolvê-las, afinal, qual a graça de um circo se não estiver pegando fogo? Ainda que do fogo tivesse certo medo, a mão do rapaz é que tampava sua bebida flamejante, que em goles rápidos desaparecia. E depois vinham as longas conversas supostamente intelectuais, pois, por mais que se valorizasse exacerbadamente a aparência e ela fosse quem, na grande totalidade dos casos – sóbrios ou semi –, contasse, ainda havia certo culto ao intelecto ébrio, como se ele fosse o melhor galanteador das noites enegrecidas. Ainda assim, seu taco dizia para tentar a treze – estava com os pares, mas isso era injusto… treze sempre havia sido seu número. Mesmo no dois ou um. E qual o mal de acertar na bola? Nesses casos inocentes, um acerto sempre é um acerto, não importa o erro envolvido. Vai para a listinha de fim de ano, a rara listinha que pede que as coisas se repitam no próximo ano – é, reconhecer é um dom. E quem sabe qual sorte traria uma bola treze? Mais festas, jantares, desconhecidos, amigos antigos e soluços… talvez. O treze sempre a marcara, quer por amores, quer pela própria vida, estranhamente desconexa. E ainda lhe dizia um futuro, inspirado em parte por um passado muito bem passado, dobrado, guardado. Com carinho na gaveta de baixo, junto a umas camisolas pequenas. Ela crescera, embora jamais tivesse apagado de si as lembranças que cultivou. Eram elas seu maior tesouro. O que ninguém poderia possuir por completo. Sua maior companheira, sua maior confidente, sua melhor amiga – só ela sabia de todas. E sabia porque vivera. Passara por elas como as outras bolas ao entrarem na caçapa. E agora tentava a treze, ainda que perdesse e devesse colocar a oito. Oito também lhe dava sorte – que número não dava? –, mas não trazia o fresco aroma das paixões. Se ao menos fosse dez, que o dez lhe instigava até hoje. Só sobrava a treze. Armou-se. Posicionou-se. Mirou e golpeou. E lá se foi a bola, maciça e redonda como um cometa de leite, para dentro da caçapa. A bola errada. No buraco certo. Acertos sempre são acertos.