Céu de Brigadeiro
As grades que se fechavam em minha liberdade já se afastaram, inibidas. Levaram consigo meu medo de que houvesse, numa das intempéries malucas da vida, afastado-me da única porta rumo ao paraíso. Já não acho que haja apenas uma entrada, mas também não tenho certeza de que quero entrar. Ou de que já não estou lá. Pois veja tamanha tranquilidade que se apodera de mim. Hoje, sem futuro e com um passado do qual me esqueço, não sou ninguém. E ser ninguém é supremo. É o outro extremo do verbo, a completa ausência instalada no dia-a-dia. Troquei minhas responsabilidades por pesos menores, deixei algumas preocupações para trás. Decidi-me pela indecisão, mãe de todas as encruzilhadas. Permito-me assim abranger tudo, deixando no horizonte o brilho do potencial. Não mais busco ser alguém, pois hoje não sou. E tudo o que sou me deixa em paz. Certa de ter cumprido o que me propus e honrado meus princípios, sei que posso me preparar para qualquer batalha vindoura, pois hoje o céu está limpo e a lua...